KIAFUNHATA

imagens da vida e da arte

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

É isso...

O ano muda para que tudo comece outra vez...

Realisticamente falando, o que viveremos de novidade acaba sendo menos numeroso do que aquilo que viveremos de novo. Mas, esse filme que já vimos tem seu lado bom, afinal a gente ralou bastante para assegurar a repetição de algumas coisitas que nos permitem ficar melhores nesse mundo que vai de mal a pior.

Adeus ano velho, feliz ano novo! O ano que passa nos deixa algo de bom que ajuda a ter o ânimo necessário para encarar as dificuldades que aparecerem e deletar o que nos distancia da tarefa de cavar, ao longo desses 365 dias, fatos significativos a ponto de tornar o ano dez.

Como bem disse um bailarino nos ensaios que se tornaram últimas apresentações de Michael Jackson: “a vida é difícil” e o que vale é “procurar por motivos que nos façam acreditar em algo”. Com o passar dos anos, acreditar passa a ser uma dificuldade, minando nossa motivação. Mas, viver é isso: buscar sempre e tentar curtir a busca, pois vendo com sensatez, ela é mais certa que o encontro.

Eu que não aprendi o passinho célebre de MJ, pelo menos aprendi a não desanimar diante do efeito “moonwalk” que atua em nossas vidas, determinando alguns passsinhos para trás, que nada mais são que exercícios que fortalecem as pernas que caminharão adiante!

Então: “this is it”! Desejo que a gente não pare de ter desejo, mesmo tendo consciência do ritmo “kuduro” da vida “hard rock” nesse planeta atingido pelo efeito estufa. E mesmo sentido na pele a sensação climática da estufa que assola esta cidade mergulhada no calor e nas águas da chuva.

Para nós que teremos a chance de ir além do ensaio e estrear o novo ano, cabe aprender como bailar melhor. O desafio é aproveitar cada dia para adquirir o preparo que não nos deixa perder o ritmo e que apura nossos ouvidos para reagir à música tocada em cada circunstância.

Todos dançam, eu danço. E, no ritmo da virada, recorro às uvas, lentinhas, calcinhas e cores que prometem que, no próximo ano, no fervo do pancadão nosso de cada dia, não nos falte sabedoria para coreografar a vida e exercitar o “break it” sempre que preciso. E quando pintarem dificuldades, que tenhamos disciplina para quebrar nozes, alhos e bugalhos, sem perder a classe. Mas, se for preciso, a gente quebra os barracos e, leve como o corpo de baile, segue determinado e fazendo sucesso na pista.

Para 2010, o projeto é fazer com que os sentimentos e idéias boas vivam sua "kiafunhata" aquecendo um clima positivo ao redor dessa nossa fogueira.


Divida a pista comigo e venha partilhar a dança.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Palhaçada é outra história!

10 de dezembro
Confesso que desconhecia a existência do dia do palhaço... Desde que soube, esta manhã, passei a analisar a utilidade de uma data que serve para destacar os profissionais desta arte circense, daqueles que, no cotidiano, nos mostram o lado pejorativo da palhaçada.

Hoje, quando assistia a um programa matinal global, testemunhei um ritual de tortas arremessadas por duas das mais expressivas apresentadoras da TV brasileira. Para definir aquele grotesco espetáculo de alimentos desperdiçados à hora do café, quando tantos passam fome, exclamei: palhaçada. Então, despertei para o sentido depreciativo que a palavra assumiu em nossa linguagem.

Indignada com o uso do alimento e da linguagem, pensei neste post, escrito para falar da valorização de uma arte popular, como boa parte do público que assistia a esta farra das fartas louras. Retiro o que disse, sobre isso ser uma palhaçada, e reitero meu desejo de que no próximo ano, as estrelas troquem o ritual e “brinquem” de outra forma com o alimento, que pode, por exemplo, ser “lançando” na boca faminta de parte da audiência formada por gente empobrecida, a quem o circo eletrônico chega com mais constância que o pão.

http://maisvoce.globo.com/MaisVoce/0,,MUL782081-10345,00.html

Acima, o link onde quem não viu pode ver e me ajudar a escolher outro adjetivo para a cena... Embora seja inegável que ela contém os maneirismos ridículos que caracterizam o palhaço...

Daqui por diante, vale a torcida por uma geração de novos palhaços e palhaças que surgiram nos circos contemporâneos, além daqueles que migraram para o teatro infantil como os Parlaptões, as Marias da Graça e muitos outros, que renovaram a indumentária e o repertório deste personagem que resiste. Aqui sim, reside uma tradição.

Caminhando pro final, volto ao que poderia ser início deste post e faço minha homenagem aos palhaços sem grana e sem glória, que trabalharam no ofício de alegrar. Alguns deles, anônimos, ficaram apenas na memória dos que os assistiram e riram.

Finalizando, quero divulgar o nome e a história de Benjamin de Oliveira, filho de escravos, que no circo teve liberdade para criar o Palhaço Benjamin. Nascido em 1870, no Pará, Benjamin atuou em inúmeros circos, foi cantor e criador da pantomima Os Guaranis, apresentada em 1910, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Retomando a confissão, digo que até pouco tempo não sabia que um dia houve um palhaço negro e tão significativo para essa outra história de falar da palhaçada como arte. E, se um dia me disseram que o nome da Praça Onze é Praça Benjamin de Oliveira, esqueci completamente. Aparando esses desconhecimentos, divido com vocês alguns dados sobre a carreira deste homem, cujo nome significa “filho da felicidade”, que movimentou o cenário artístico no início do século XX, somando realizações que permitem apontá-lo como criador do circo-teatro do Brasil.

Meu abraço aos palhaços que passaram pelas lonas e palcos de nossas vidas, alguns deles, organizados e representados no link abaixo, ainda teremos o prazer de ver e aplaudir por aí. Quem acessar o link terá informações mais apuradas sobre Benjamin e sobre "ser palhaço" de fato e ofício.

http://www.mundoclown.com.br/benjamimdeoliveira

Aos leitores e professores de plantão, cabe divulgar o livro Benjamin, o filho da felicidade de Heloísa Pires Lima.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Paixão (des)torcida



Conhecemos ontem o campeão brasileiro e, lendo os jornais de hoje, digo que nada como um dia após o outro pra constatar que vivemos tempos estranhos nos quais o futebol é paixão e torcer é agressão...

Parece que a conjugação de torcida e vibração descambou para a inevitável agressão praticada por uma galera que sai de casa com o alvo incerto, sabendo apenas que para se divertir, é certo agredir.

Tá certo, admito que não dá para generalizar! Neste domingo passei pela Tijuca. Pais, filhos, amantes, enfim, transeuntes, vindos sei lá de onde. Sei apenas que vinham cedo, pois, era manhã e as ruas já estavam apinhadas de uma gente que emana a energia de quem anima a vida com essa adrenalina de torcer, correndo o risco de perder e arriscando coração e garganta para empurrar seu time para vencer.

Ares daquela “alma encantadora das ruas” registrada pelo atento João do Rio. Eu que nem torço, confesso ter ficado comovida com o poder anestésico da bola rolando e a grana entrando nos bolsos de imperadores e pets. Quanta mobilização em jogo ou, como se mobilizam tantos para curtir aqueles curtos noventa minutos...
Veio o jogo e, já distante, vi os torcedores pela TV. O show na platéia é massa mesmo, no campo nem tanto... Mas, segue o primeiro tempo. Lá vão eles, em campo, tocando a bola como quem chuta para longe os problemas dos que torcem e retorcem na dureza do concreto da arquibancada e da vida de quem não é, nem ganha, como celebridade.

Sei que eles, fora de campo, ganham algo de muito bom com o exercício de torcer. São generosos, nem se importam em ser parte não remunerada do jogo. Fazem por paixão. Então deve ser por isso que temos torcedores passionais demais, ao ponto de serem irracionais.
Termina o primeiro tempo. Empate no Sudeste, vitória do líder no Sul. Já começo a temer pelo tipo de torção que pode rolar no Maraca...

Rola a bola novamente. Segundo tempo, segundas intenções na cabeça de jogadores e torcedores. Como já viram que estou mais atenta aos lances da platéia, após esses muitos minutos já estou pensando na reação do novo “protótipo” de torcedor organizado e brasileiro. Céus, essa “config” não podia mesmo dar certo. rss
Para essa brava (e bota brava nisso) gente, a ordem é comemorar. E o que é comemorar dentro dessa nova ordem que nos guia, os jornais mostram nesta segunda: Festa do hexa do Flamengo deixa dois mortos no Rio.

Com tristeza e sem surpresa, vi que real ou surrealmente, nesse modo de diversão/comemoração se torce até vir a dor, que pode ser do juiz, dos torcedores do outro time, do mesmo time ou, até mesmo, de algum membro da equipe do coração...

E, na prorrogação da vida que se vive após cada parada pro jogo, a ordem é (h)exagerar, torcer a razão e distorcer alguma coisa que um dia foi paixão!

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Primeiras cores do último mês

Atravesso a Av. Brasil
No céu,
Não vejo traçantes,
Vejo cores

Um arco-íris
No céu do Rio
Iluminando o percurso
Uma alegria me atravessa
rio das cores
Bandeira da paz na boca
Celular na mão
Capturo a beleza que há
E que atravessou a tarde
sem merecer manchete
silenciosa
desconhecida pela maioria
mergulhada em tensões,
apagões,
arrastões...
Cores capturam meu olhar
Cruzo a avenida
O olho mira essa festa
Cromoterapia inesperada!
E, embora tenham levado o pote de ouro
Eu rio
Por resistir no Rio
RJ, 29/11/09














domingo, 4 de outubro de 2009

Aláfia!

No começo da semana o Rio de Janeiro saiu vitorioso na disputa para sede da próxima Olimpíada. Comemorada nas areias de Copacabana, essa alegria não atravessou o mar de asfalto para mexer comigo, e com o "resto" da cidade que, ao longe, observa a festa preparada para outros, desdobrando-se nas provas de resistência exigidas para sobreviver no anti-olimpo carioca.
Eis que nesse domingo, o http://brsoulsista.blogspot.com/ traz um post inspiradíssimo, deixando-me a par de uma conquista festejável: a vitória de Nei Lopes no prêmio Jabuti. Após a notícia, a nova semana terá gosto de uma festa que me deixa mais esperançosa em relação a um legado positivo para o cidadão brasileiro que, antes de qualquer congraçamente com outros povos e prática esportiva, precisa praticar a reflexão sobre a sociedade que integra, colocando na arena o racismo que se quer deixar escondido.
Como bem cantado na roda, "não dá para fugir dessa coisa de pele", temos que encarar as manifestações que indicam a permanência do racismo entre nós, caso seja nosso desejo esclarecer nosso pensamento a ponto de erradicar essa mania nacional que dá alma a piadas, músicas e frases de efeito negativo para afrobrasileiros e para uma sociedade que precisa "desatar os nós" relativos as relalções raciais para que todos nós tenhamos a individualidade valorizada e respeitada.
Parabéns ao escritor, sempre voltando sua palavra para por em kiafunhata (no auge) a luta anti-racismo e a construção de uma memória afrobrasileira!
Bebamos do pensamento do autor, "como água que é de beber e de lavar" e que nos serve para irrigar um discurso real contra a fantasia da "mestiçagem cenográfica" descrita em http://www.neilopes.blogger.com.br/, de onde transcrevo o trecho abaixo, compartilhando o festejar:
"(*) SOBRE A IMPORTÂNCIA DA PREMIAÇÃO, TOMAMOS A LIBERDADE DE TRANSCREVER PARTE DO E-MAIL QUE O JOVEM AMIGO RICARDO BISPO NOS ENVIOU: “Parabéns pela premiação, estávamos na torcida. É uma vitória dos Movimentos de Conscientização dos Negros, vitória da Educação (como um futuro pedagogo, estou soltando fogos), [...] Que os búzios continuem dizendo: Aláfia!”

domingo, 27 de setembro de 2009

Salve alegria!!!



Domingo, 27 de setembro. Faz um sol intenso, sol de Bangu, calor imenso! Mesmo assim, andando pelas ruas desta minha periferia, vejo a resistência de mães e crianças que percorrem o bairro buscando os tradicionais doces de São Cosme e São Damião.
Décadas atrás, lá estávamos eu e amigos, recebendo o doce agradecimento dos fiés. Disputávamos mais cada saquinho, pois, as restrições religiosas e alimentares eram menos intensas.

Na distribuição do século XXI há um formato mais recente: devotos seguem pelas ruas com seus carros e são eles que procuram quem possa receber a doce prenda. Avisto o encontro de um grupo de mães, avós e crianças com um carro que faz farta distribuição.

O raro momento de generosidade aciona os fluídos de amor, alegria e felicidade, citados na prece umbandista que pede aos “luzeiros espíritos da corte de Oxalá, amados benfeitores, queridos guias que vossos fluidos sacrossantos, recaiam sobre nossas cabeças”.

E nesta semana em que uma cabeça foi estourada pela bala que não é doce, é muito oportuno encontrar pelas ruas os sinais vitais destas forças do bem.

Seja qual for nossa devoção, que nossos dias sejam mais doces. E que seja possível contar com a inocência e simplicidade dos santos meninos acompanhando e protegendo todas as nossas crianças.

Salve o bem! Salvemos vidas de forma mais branda, adoçando a existência de nossas crianças e das crianças grandes que somos!

sábado, 26 de setembro de 2009

De olho no futuro

Algumas palavras que circulam na boca do povo possuem incontestável verdade. É o caso do dito: uma imagem vale mais que mil palavras.

Imagem é identidade. Ser identificado por uma imagem é algo muito funcional na pressa destes tempos onde a identidade visual assumiu lugar de respeito, além de ser advento respeitável para quem pleiteia alguma visibilidade.
Chego ao ponto que motiva este post: a escolha da imagem que identifica este canto virtual. Hoje, a partir de um papo cabeça, parei para (re) pensar a imagem escolhida para abrir este blog. A troca de idéias girou em torno do meu impulso de recorrer a uma imagem da antropologia de décadas passadas. O saldo imediato foi pensar que a África não corresponde mais a esta imagem, concordo. Como todo espaço onde a colonização atuou, em terras africanas, aos poucos a paisagem distanciou-se das marcas das identidades locais, tão bem (representadas) na foto.

Olhar para o passado ajuda a afirmar um futuro identificado com a trajetória das culturas negras. No click antropológico de décadas atrás, a mulher se desloca. A foto levou-a além de seu tempo, fazendo-a chegar até esta tela. Em sua projeção digital a mulher leva adiante um modo de estar no mundo que o mundo moderno parece ter descartado.

Reconheço que a tribo mudou de cara, agora é global. Então, cabe reacender o que vai ficando no passado. Para tanto, insistirei em destacar essa imagem capaz de reter os traços culturais representados nas personagens e no cenário.

Numa foto obtida em março de 2009, em Maputo, reconheço a tradição integrada ao presente. Nesta imagem atual, identifico o caminhar de traços culturais que animam a construção de identidade desta afrobrasileira que vos fala através do kiafunhata virtual.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Dirce Migliaccio: o ser humano que encheu de vida a boneca de pano.



A gente cresce, embrutece, mas, quem viu Dirce Migliaccio como Emília, não esquece os trejeitos que personificaram a boneca como um ser falante e encante.
Nesse dia que encerra as aparições da atriz, lembro da senhora falante e encantante com quem encontrei numa tarde de 1999. Não foi um encontro casual, mas profissional. Também não foi um encontro de atriz para atriz, como eu sonhava viver nesta época em que gastava minhas horas, e só gastava, com o teatro. A possibilidade de ganhar alguma grana no teatro me fez aceitar substituir a administradora da peça “Os ratos de 2030”, escrita por Flávio Migliaccio e encenada no Centro Cultural dos Correios. Foi lá, numa tarde de ensaio, que conheci a Dirce e reconheci o astral da Emília das tardes da infância.
Integrante de uma geração cujo cachê não foi proporcional à doação a arte brasileira, a senhora atriz era um pedaço espivitado de gente. Fui apresentada a uma senhora muito zen, afetuosa e nada afetada. Esse tecido maleável da pessoa Dirce me deixou à vontade para declarar o quanto ela colaborou com horas felizes que minha geração passou em frente à TV. E, durante a temporada, foi um prazer, checar o camarim, comprar o chá e deixá-la sozinha no seu espaço, iniciando relax, maquiagem e rituais que antecipavam seu prazer maior de estar em cena.
Procurei alguma foto ou programa do espetáculo e vi que não guardei nada... Mas, tenho bem gravados na memória os olhos vivos da DircEmília. Que bom que tenho memória e, que bom ter declarado a ela meu carinho e ter trocado meu aplauso da infância pelo cuidado adulto com esta atriz tão querida, que hoje sai da vida, tal qual o fantasminha interpretado no teleatro de uma extinta TV.

E, pluft! Lá se vai o ser humano que encheu de vida a boneca de pano.

domingo, 20 de setembro de 2009

Agenda Real

Documentário sobre a mãe de santo francesa, Gisele Omindarewa

Produção do INARRA - Grupo de Pesquisa interinstitucional, ligado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, foi criado em 1994. Procura estimular o uso de imagens (fixas e em movimento) nas pesquisas sociais, buscando novas possibilidades de produção e de transmissão de conhecimento.



Aguardando lançamento**

Release


Documentário sobre a mãe de santo francesa, Gisele Omindarewa. O filme procura reconstituir a sua trajetória através das lembranças de sua infância e juventude num dos bairros mais nobres da região Parisiense. Filha de militar, ela participou da resistência francesa gauliste ao lado do pai ; casou-se com diplomata francês e com ele viveu em diversos países africanos e veio parar no Brasil. Amiga de Abdias do Nascimento conheceu o teatro negro carioca e os terreiros de candomblé do Rio de Janeiro. Foi no terreiro de Joãozinho da Goméa que fez sua iniciação nos anos 1960 e sua vida passou a ser dividida entre a diplomacia francesa e os rituais afro-brasileiros.