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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Qual a receita do bom ano novo?

No clima de mudança de calendário, recebi uma mensagem com poema de Drummond. Valeu amigo! Poesia ajuda num belo início de ano.

Talvez o poeta mineiro pensasse nisso quando, em dezembro de 1968, em carta para Lázaro Barreto, enviou este pequeno poema:

Procuro uma alegria
uma mala vazia
do final de ano
e eis que tenho na mão
- flor do cotidiano -
é um vôo de um pássaro
uma canção

Eis que tenho na mão as palavras que, ontem, capturaram a sensação cotidiana de um vazio que nos acomete, mesmo nos dias atuais, tão cheios acontecimentos. Acontecimentos que passam como flash, como vôo de um pássaro que nem sempre voa no enquadramento da nossa visão.

É tão (im)preciso olhar quanto ver...

Eu, míope como o poeta, quero enxergar tão longe quanto ele e quero me fazer capaz de tomar nas mãos a flor de um cotidiano que esconde perfume por entre os espinhos.

Nesse ano, de novo, vou procurar a alegria,
o bom papo,
e a bela canção
que dá ritmo gostoso a essa soma de fatos que fazem a vida

Eu velha criança que resiste na brincadeira, que recria bonecas em filha e sobrinhas,
acredito seriamente em doze meses que permitirão somar aprendizado,
trazer mais crença em em mim e nos nós que nos fazem gozar a vida.

Nada prendada, eu que como com prazer, mas pouco sei cozer, não sei a receita para tudo dar tão certo quanto desejo...

Apenas brinco com as palavras, tempero a página em branco, ordenando os ingredientes do dizer de modo a expressar os sentimentos sérios que vão no íntimo.

Mala cheia das melhores expectativas, mas sem receita, mapa ou caminho, envio então a receita do bom Drummond, publicada no JB em dezembro de 1997:

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagem
(planta recebe mensagem?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependimento
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
em janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados,
começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, é dentro de você
que o ano novo cochila e espera desde sempre.


2011 expectativas de sucesso!
(aliás, 2000, pois, estamos em 11.01 e pelo menos dez dias já trouxeram suas boas novas ou mantiveram nova a torcida pelo melhor)